sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Cap III – O CASAL E O ENFORCADO

No dia seguinte, seguindo uma longa caminhada em pé, atravessei o deserto, rios e montes. Me apressei em direção ao destino, mas sem preocupar-me em chegar a algum lugar. O destino era apenas seguir em frente. Um passo de cada vez. E mais um passo... mais outro passo. Acabei indo além de onde havia imaginado estar em planejamentos prévios. Resolvi dar um tempo para beber a água da fonte da vida. Também conhecida como elixir da longevidade.

Por ali encontrei um casal de enamorados que caminhavam saltitantes, e beijavam-se com fervor. Durante alguns minutos fiquei apenas observando de longe e refletindo sobre minha solidão. Logo mais, com a sede saciada pela água da fonte, fui até eles e e perguntei: “Qual o segredo de uma união bem sucedida?” Eles me responderam que era preciso ter amor e respeito mútuo. Naquele momento lembrei-me de meu objetivo maior, me despedi e segui em frente.

Fiquei pensando ao caminhar. A união era mesmo o que os arcanos precisavam. Vestir a mesma camiseta. E unir-se em prol do bem comum. Andei mais um pouco, e vi pendurado em uma árvore um homem enforcado. Fui em direção a ele par tentar ajudá-lo. Mas ele parecia estar na posição que desejava. Estava ali porque queria.

Perguntei ao homem por que estava naquela posição. E com a sua sabedoria me confessou que só conseguiu encontrar a satisfação de sua busca quando se sujeitou a fazer sacrifícios. Precisava ver o mundo por outro ângulo. Experimentou então vê-lo de ponta cabeça. todo aquele momento parado ali era necessário, segundo a sua intuição, para atingir o discernimento de que precisava.

Já estava escurecendo novamente, e depois daquela colocação falei: “ Esta noite acamparei aqui. Acho que esta árvore poderá me proteger do sereno.” Ali ficamos a noite toda conversando e provocando nosso entendimento. Foi uma noite na construção da sabedoria. Dormi pouco, e apesar do enforcado passar a noite em provocação, não dei bola a um homem que escolhera parar no tempo para ficar dependurado. Contudo aproveitei parte do seu conhecimento. 

Cap II – A ESTRELA DA NOITE

Ainda naquela noite enquanto caminhava em direção ao nascer do sol, senti o brilho intenso de uma estrela que pedia comunicação. Seguindo o trajeto fomos conversando sobre o que havia acontecido na celebração dos Arcanos. A estrela me transmitiu um pouco do seu entendimento em relação à visão que possuía sobre tudo aquilo.

Segundo ela: ‘É normal que os rebelados quisessem agir de maneira revoltosa. Eles sempre são assim. Desde que Lúcifer, o chefe dos recaídos, decidiu seguir sem Deus, eles o seguiram baseados na admiração que sentiam por sua luz. Mas Lúcifer sem Deus seria uma luz a apagar-se. Mesmo ele sentindo-se sem o Criador, Javé permanece com ele na forma da luz invisível. A qual não se apaga.’

Com todas estas palavras da estrela me lembrei de inúmeras outros personagens que encontro pelo caminho. Pais que fugiam dos filhos, filhos que fugiam dos pais. Os maus sentimentos que compartilhavam aqueles que desejavam seguir sem os outros, e o bem estar e felicidades dos que ao invés disso se mantinham disponíveis e sempre presentes de alguma forma.

Caminhei horas no meio da noite, rompendo as trilhas do vento, sob a luz da estrela. Ela me transmitiu esperança na jornada. Senti que estava com sorte. Senti uma ajuda espiritual. Com sinceridade, simplicidade e clareza fui refletindo comigo mesmo sobre o passado, o presente e o futuro.

A noite chegava ao fim, e o dia se iniciava. No horizonte, ao longe, junto a aurora vi a imagem de sete meninos brincando. Me apressei e fui até eles. Estávamos integrados à natureza. Brincamos por algum momento em comunhão. O dia se foi rapidamente, adormeci meus anseios imediatos pra descansar uma noite tranquila.

CAP I – COMEÇANDO DO INÍCIO

Antes de começar minha jornada, fui em busca de um velho bruxo, chamado Ater; Que em muitos momentos compartilhou comigo os seus questionamentos. Chegando lá, em sua cabana, entre a planície e a montanha, a beira do rio azul, sentamos em volta da fogueira como sempre fazíamos. O velho bruxo abriu o livro dos feitiços, lançou a sorte sobre palavras estranhas e viu o que estava por acontecer. Era uma noite escura sob um lindo céu.

Enquanto conversávamos, bebíamos de uma bebida alucinógena, feita a base do sangue de sapos silvestres. Segundo Ater, aquilo era para colocar justiça nos retornos que vinham da terra. Na fogueira queimavam arruda e dama da noite com símbolo da destruição das armas de defesa do inimigo.

Já chapados por todo aquele ritual, expliquei porque eu havia ido até ele. Algo estava errado. Eu queria saber se havia como transformar. Com conchas, pedaços de osso e pedras, Ater lançou a sorte mais uma vez e ouviu os espíritos ancestrais lhes zombando em melodia. E eles lhe disseram tudo o que eu precisava saber: ‘Não há como mudar o seu destino. Mesmo que ele tivesse sido interrompido temporariamente. Ninguém poderia impedir o que já está pré definido. A luta é sua meu amigo.’

Eu e Ater seguimos bebendo o sangue do sapo. Também fumamos uma erva com cheiro estranho, para acalmar o espírito da terra. Então Ater me disse: ‘Você precisará encontrar o Carro de Guerra. Pois ele lhe fará vencer a batalha final. Do começo você precisa ir ao fim. Em toda jornada tome cuidado quando encontrar o Louco e o Eremita. Eles estão perdidos. Mas se puder, mostre-lhes o caminho. Quando encontrar a Temperança, leve-a até a Torre para apagar as chamas do Demônio. O mais lhe será revelado na caminhada. Siga com o Sol durante o dia, e a Estrela guia durante a noite. Cuidado com a Lua, ela tentará levá-lo de volta ao passado. Haja com justiça em todo trajeto, seja justo com seus aliados e implacável com os inimigos. Estarei lutando por vós do outro lado.’

Depois de Ater me dizer estas palavras, ele se despediu, dando as costas e indo para o lado contrario. Então segui minha busca.

PRÓLOGO

Estávamos todos reunidos para selar o fim dos tempos e inaugurar a Nova Era. Éramos vinte e dois mais a Trindade do Deus Maior. O Universo conspirava para um fim pacífico. Quando as trombetas tocaram, estava ciente de que o martelo iria encerrar a sessão. Era para ser uma votação unânime. Havia um objetivo comum, mas alguém cruzou a questão.

Raios cortaram os céus e trovões fizeram estremecer a terra. Foi iniciada, então, uma forte tempestade que varreu os mares. A luz das estrelas foi eclipsada pela sombra de outros planetas. Então os outros vinte e um dividiram-se em três grupos. Os que defendiam a questão, seus aliados e seus inimigos. A batalha havia começado.

As cartas estavam na mesa. Com a exceção dos sete que haviam sido levadas pelos rebelados e de uma que eu guardara comigo. Foi decidido de que os aliados deveriam proteger os defensores da questão, enquanto estes deveriam trabalhar no sentido de trazer de volta ao concílio os rebelados e suas cartas.

Quando todos partiram, a mim foi confiada uma missão a ser cumprida.

‘Que o poder dos Arcanos Maiores me seja designado’.

Juliano Paz Dornellles - Jornalista e Escritor

OBS: O texto acima foi editado e publicado no futuro e fala do período atual. Período de expansão dos sentidos e luta pelo desenvolvimento. Precisei ir até lá para buscar na versão impressa as anotações sobre a empreitada a qual me encontro. Em alguns momento utilizei o verbo no passado, contudo subentendem-se outras conjugações de tempo. Quando falava sentido, por exemplo, entenda que ainda sinto e possivelmente  seguirei sentindo. Em outros casos o 'estava' e o 'era' na verdade poderiam ser traduzidos em 'estamos' e 'somos'. 

Apesar desta codificação que criptografa o texto, a leitura é tranquila e certamente você se identificará com a história. Tente entender quando falo história, e não estória. Procure associar as formas e denominações, sendo que a magia e o sincretismo precisam estar presentes para uma melhor entendimento. Quando achar que estou falando de mim, saiba que posso estar falando de você, quando achar que eu estiver falando de você, pense em todos os outros.

Boa Leitura !







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Juliano Dornelles